Retrospectiva balzaquiana (ou os anos em que a expectativa fez ela quebrar a cara)
Atualizado: 10 de jan. de 2020

Era 1995 e ela tinha 10 anos. Aquele ano foi muito difícil, porque a família tinha acabado de se mudar para uma cidade menor, mais afastada, longe de todos os seus amigos e de tudo que ela conhecia como mundo. Fazer novas amizades sendo tímida aos 10 anos não é tão fácil, principalmente porque ela não se sentia parte daquele lugar. Foi um ano difícil, mas passou, ela sobreviveu e, convenhamos, aos 10 anos não há muito o que se preocupar, a vida está toda a sua frente.
Agora já estamos no ano 2000, uma loucura acompanhar uma virada de milênio, milhões de perspectivas e de possibilidades para essa nova era humana. Mas ela tinha 15 anos e isso era tudo muito distante. Aos 15 anos, a vida fica um pouco mais complicada. As amigas estão namorando, no colégio só se fala sobre isso e você ainda tem que estudar. Como ela não era escolhida pelos garotos, a vida dela se passava na sua imaginação e naquele mundo que surgiu há pouco tempo: a internet. Horas fantasiando sobre bandas, amigos virtuais e conexões impossíveis. Não via a hora de ter 25 anos, estar independente, com um bom emprego, um namorado incrível e vivendo a liberdade de uma adulta.
Aos 20 anos tudo é diferente. Alguém disse. Entrar na faculdade foi uma possibilidade de se reinventar. Se todos a conheciam como a tímida, quieta, amiga conselheira, ela poderia ser agora quem ela quisesse. Foi ao se reinventar que ela se apaixonou de verdade pela primeira vez. E teve sua primeira decepção amorosa também. Pelo menos, ela aprendeu que amar era possível e nada mais a impedia de buscar esse sentimento novamente. Foi assim que conheceu o segundo, terceiro, quarto... romances frustrados. Amar é possível, mas quem disse que é fácil? Além disso, ela já tem 20 anos e ainda mora com os pais, não tem emprego, se aventura em diversos cursos, mas ainda depende de mesada. Aparentemente, a visão de chegar aos 25 independente está difícil de acontecer.
Com 25 anos de idade, sua mãe já tinha tido dois filhos, sua avó talvez uns 5, e ela ainda morava na casa dos pais. Ao menos tinha um estágio, um namorado e já havia feito um intercâmbio. A vida parecia longe de ser aquilo que ela sonhou aos 15, mas estava caminhando. E não havia tempo para muitas lamentações, era preciso terminar a faculdade e pensar no futuro, porque aos 30 ela já deveria estar casada e independente financeiramente.
Só que a vida não é uma linha reta de evolução. Se fosse assim, todos os idosos seriam ricos, felizes, equilibrados emocionalmente e não estariam falando besteira na mesa do jantar de final do ano ou no gabinete da presidência de alguns países por aí. Claro que a vida ia ensinar mais uma vez que só se frustra quem cria expectativa. Quem mandou? Aquele ano foi intenso, 2015 parecia que queria ensinar a ela a ter paciência, a saber que nem tudo sai da forma como planejado e que, principalmente, era preciso esperar menos das pessoas. Foi um ano para aprender e se preparar para passos maiores. E foi isso que ela fez. Finalmente, ela poderia olhar para trás e ver tudo o que conquistou dali a 5 anos.
O que você aprendeu sobre criar expectativas? Vem 2020, ainda uma folha em branco, mas já com um passo para trás. Problemas financeiros, necessidade de voltar de onde veio, parada na carreira. Um novo relacionamento e novas perspectivas de futuro, sim, é verdade. E quem quer saber disso quando se vê que estamos chegando na metade da vida e nem sequer chegamos na metade do caminho? Ela poderia dizer que é preciso olhar para o positivo e ser grata por tudo que conquistou, mas a vontade mesmo é de mandar essa vibe grati-amor ir à merda.