Primeira (meia) semana do ano. Ou quando o mundo começou a acabar.
Atualizado: 10 de jan. de 2020
A primeira semana do ano veio para dizer que 2019 não terminou. Aliás, a impressão é de que 2020 já mostrou a que veio e será mais desafiador do que o ano que se encerrou.

Como a imagem já entrega, a principal notícia da semana foi o ataque dos Estados Unidos, ordenado pelo Presidente Trump que levou à morte o General Qassem Soleimani, um dos mais importantes líderes do Irã. Logo após este ataque, protestos no Irã e no Iraque pipocaram e houve outros ataques do exército norte-americano.
Agora, quem foi o General Soleimani e qual a importância deste ataque para a política mundial? Por que o medo de uma terceira guerra mundial ronda a internet? Por que essa ataque agora, já que se noticiou que os EUA tiveram outras chances e escolheram não fazê-lo?
São várias as questões que surgiram. Várias já respondidas. Eu vou apenas resumir aqui o que consegui ler para quem ficou perdido nisso tudo.
O General Soleimani era uma figura importante na tecitura política do Oriente Médio. Ele foi comandante da Guarda Revolucionária do Irã e conseguiu estender de maneira discreta operações clandestinas daquele país no exterior. Por isso, o Irã tem alcance militar na Síria e no Iraque. Sua importância diplomática era tão grande que ele era visto como um possível nome a ascender a um cargo político mais alto. A sua imagem entre iranianos não é unanimidade, como qualquer figura política, mas entre seus aliados ele tinha uma imagem quase que legendária. O Estadão faz um ótimo perfil sobre ele com o título: "Quem era Qassim Suleimani, general da Guarda Revolucionária do Irã". Leiam.
Quanto à importância para a política mundial, imagine a notícia contrária: "Irã mata o Secretário de Justiça dos EUA em ataque aéreo". Deu para compreender? Só que o Irã não é os EUA e vice-versa, então essa história nos vai ser contada de uma forma que, ao final, estaremos torcendo para que os americanos invadam o Oriente Médio. Cuidado. Na política, não há mocinhos e vilões. Há pessoas que estão em busca de interesses, sejam pessoais ou de seus países, mas elas estão sempre jogando para atingir o máximo de ganho. Isso é ruim? Não necessariamente. Se os ganhos são pessoais em vez de coletivos, claro que vai ser ruim para o coletivo. Se as regras do jogo não são respeitadas, também será negativo. Contudo, é preciso parar de analisar a política como se fosse um filme de Hollywood ou um jogo de futebol.
A internet (especialmente a brasileira) explodiu de memes (muitos muito engraçados) sobre a possibilidade de uma terceira guerra mundial e da participação do Brasil nisso. Vamos lá... Primeiramente, a noção de primeira e segunda grande guerras poderia ser questionada. Na verdade, o mundo já viu diversas guerras, muito mais longas. O conceito de mundial vem da participação de países fora da Europa em uma guerra entre países da Europa. Se questionarmos o nosso aprendizado eurocentrista, saberemos que na verdade o mundo está em Guerra já há um bom tempo. Veja a guerra da Síria, por exemplo. O nome é "guerra da Síria" mas tem o envolvimento dos EUA, Rússia, Irã e Turquia.
Bem, superado isso. Quais as chances de uma Guerra que envolva EUA e Irã e outros países os apoiando de lados diferentes? Não sei. Não sei e não vou chutar. O Irã deve retaliar? É possível. O Trump dá sinais variados de que poderia contra-atacar uma retaliação deles: ora ele diz que não quer guerra, ora diz que atacaria 52x mais. Não sei. O que eu torço é para que, claro, isso não aconteça.
Agora, por que o ataque agora? O meme abaixo dá uma dica:

Existe um vídeo circulando do próprio Trump falando em 2011 que "nosso Presidente (Obama) vai começar uma guerra com o Irã só para ser reeleito."
Uma piada comum entre os brasileiros é que os políticos começam obras de infra-estrutura nos dois últimos anos do mandado para "mostrar trabalho" e se reeleger ou eleger seu candidato. No caso dos EUA, existe um ditado semelhante só que em vez de obras, os presidentes começariam guerras. A cultura da guerra americana é algo que está muito enraizado entre os cidadãos. As pessoas realmente acreditam no papel da guerra como mantenedora da paz (apesar de controverso) e do papel dos EUA de espalhar a democracia. É muito interessante.
Então, no meme temos uma musiquinha dizendo "Se você é culpado e sabe disso comece uma guerra... Se você é culpado e sabe disso e o impeachment claramente mostra isso ... comece uma guerra". Deu para entender?
No final de 2019, a Câmara dos Deputados americana havia finalizado o processo de impeachment votando por permitir o envio de dois artigos de impeachment ao Senado, onde ele será julgado e removido ou não. Contudo, como já falei aqui, Nancy Pelosi decidiu segurar o envio dos artigos para o Senado até que os senadores republicanos se comprometessem a fazer um julgamento imparcial. Notícias dão conta de que o Senado estava chegando a uma conclusão sobre a forma do julgamento quando o ataque ocorreu. Então, por que agora? O Pentágono acompanhava os passos dele há muito tempo. Havia oportunidade de matá-lo, mas nunca se decidiu por isso porque obviamente é uma ação muito importante para ser feita sem um motivo claro.
E qual o motivo claro? Não há. Não foram divulgados os detalhes e provas sobre os argumentos que estão sendo dados. Especula-se que ele estava planejando um ataque a membros da diplomacia norte-americana. Mike Pompeo disse que ele estava planejando "uma ação importante" que ameaçava a vida de centenas de americanos. Novamente, não há documentos e dados que provem essa informação. Então, não é possível afirmar se isso é verdade.
De forma geral, vamos acompanhar o que está por vir e quando a gente ouvir o som do plantão da Globo, a gente vai saber que o negócio ficou sério para o lado de cá. Por enquanto, vamos observar e torcer pela paz.