O dia em que a Terra parou

O sonho de Raul Seixas finalmente virou realidade. As pessoas não resolveram, nem foi combinado, mas está sendo recomendado para evitar que nosso sistema de saúde não dê conta de tanta gente a ser atendida ao mesmo tempo. Se as pessoas não podem sair de casa, o comércio não tem para quem vender, os produtores (de insumos, de produtos fabricados etc) não têm para quem vender já que ninguém compra. Os serviços foram suspensos e, se foram suspensos, as empresas não têm para quê manter os empregados. Os grande investidores colocam a mão na cabeça por estarem perdendo parte das suas fortunas. Os pobres empregados, subempregados e o precariado perdem o sono com medo de não ter mais emprego ou não ter como conseguir dinheiro para o básico.
Os motivos para essa crise podem ser explicados pela economia, pela saúde, pela psicologia. São diversos, mas, sem dúvida, chegam em um momento que a gente precisa parar para entende-los. Um vírus, uma doença apenas não é o único fator para tanto terror (das pessoas, do mercado de ações, dos países). O mundo estava indo em um ritmo de consumismo, produção e negação sobre tudo aquilo que é de mais importante que, ao final, temo que estávamos precisando de uma pandemia para nos fazer repensar.
Pessoalmente, o avanço da doença sobre o território onde moro impactou minha vida de forma não tão brutal, mas emocionalmente difícil. Houve a recomendação de afastamento das atividades do trabalho. Sou professora, então quando as universidades suspenderam as aulas, também entrei em quarentena. Mas além disso, me coloquei em distância daqueles que amo e que são grupo de risco. E parece que é tão pouco dizer, mas não ter contato físico com as pessoas que você ama (sem ter sido sua decisão) é duríssimo. É triste. Dá vontade de chorar e chorar faz parte.
Muita coisa ainda vai mudar e ninguém sabe se estamos preparados para isso, mas é verdade que esse também é um momento de reflexão. É preciso repensar nossa lógica consumista que acaba com o meio ambiente; é preciso repensar nossas convicções sobre o que deve ou não deve fazer um Estado; sobre a necessidade de termos saúde de graça e com qualidade para todos. É preciso pensar naqueles que estão com a gente, nossos amigos, familiares, vizinhos. Repensar o coletivo e ser menos egoísta. Situações de crise pode trazer o melhor e o pior de nós.
O Negativo em nós
Negar que tudo isso está acontecendo; Criar teorias da conspirção; espalhar e disseminar fake news e desinformação. Tudo isso é um desserviço à sociedade. Nós devemos nos lembrar que vivemos em um mundo coletivo e nossas atitudes (até as mais simples) impactam a vida dos outros. Governantes que escolhem agir assim contribuem ainda mais com a morte de dezenas, centenas de pessoas. Pode parecer apenas números, mas são pessoas que estão vivendo felizes sua jornada, mas que de um dia para o outro contraem uma doença que as tiram do convívio dos seus em três, quatro semanas. Se você tem o poder e o privilégio de evitar isso, faça!
Outro terror é o egoísmo daqueles que estocam bens sem necessidade. Aqueles que compraram papel higiênico e álcool em gel aos tubos por medo de ficar sem, ou pior, para lucrar em cima do terror. Que tipo de pessoa você é? Vergonha. Espero que essas pessoas usem esse tempo para refletir e mudar.
O Positivo em nós
Na contramão do absurdo, encontramos atitudes boas. Empresas que estão liberando sinal de internet e de TV por assinatura para quem vai ficar em casa. Contratantes que estão permitindo que seus funcionários trabalhem de casa. Quem contrata o serviço de restaurantes e lanchonetes para delivery e dá uma boa gorjeta ao entregador. Quem não cancela sua viagem ou evento, mas remarca. Vizinhos que estão olhando um pelo outro. Profissionais de educação física que estão prescrevendo atividades para serem feitas em casa (alô minha Qualimove!). Nem tudo é caos e desespero. Nem tudo tem que ser ruim.
No dia em que a Terra parou, é possível procurar o outro mesmo a distância e dizer um "alô", um "eu te amo", um "estou pensando em você". Vai ser difícil, mas não precisa ser pior. Depende de todos e cada um de nós.