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Ideologia do absurdo

Texto publicado originalmente no Medios Lentos


Nas últimas semanas, o governo Bolsonaro tem investido em ataques contra as universidades públicas brasileiras de maneira sistemática. O modus operandi segue o mesmo de outras vezes em que eles precisaram de apoio para uma ideia que soa absurda: primeiro, eles lançam uma notícia falsa ou exagerada e fazem com que as pessoas desenvolvam ódio por aquele assunto. Dessa vez, eles disseram que as Universidades eram locais de “balbúrdia” e consumo de drogas e os contribuintes não tinham que gastar seu dinheiro com isso.


Imediatamente, surgiram imagens de pessoas nuas protestando e textos informando que aqueles protestos seriam em universidades. Logo, um arsenal de apoiadores contribuiu para espalhar pelas redes sociais tudo aquilo e, em pouco tempo, uma parcela da população se virou contra as universidades públicas.


Além das mentiras sobre o comportamento dos alunos, também inventaram informações sobre as universidades supostamente não produzirem ciência, ou não produzirem o suficiente; ainda, disseram que a maioria dos estudantes seria de classe média e alta.

Seguindo as notícias falsas e o ataque à imagem das universidades, vieram os cortes do orçamento. Segundo o portal brasileiro UOL Educação, no MEC, hoje, cerca de R$ 5,8 bilhões do orçamento estão contingenciados, atingindo recursos que vão desde a educação infantil até a pós-graduação. Até o Museu Nacional, atingido por um incêndio de grandes proporções ano passado, sofreu cortes em seu orçamento para a reconstrução.


Algumas universidades já alertaram que não terão orçamento suficiente para manter os gastos básicos, como energia, limpeza e conservação, no próximo semestre. Provavelmente, elas terão que parar as atividades. Os programas de pós-graduação temem ficar sem recursos para dar continuidade às pesquisas que já têm um investimento baixo.

A situação das universidades vem se complicando já há alguns anos. Nos governos Dilma e Temer os recursos sofrerem cortes e já era possível ver a deterioração dos prédios e a falta de verbas para tudo. Portanto, os cortes perpetrados por Jair Bolsonaro estão sendo o último golpe fatal no ensino público.


Para se posicionar contra esses cortes, milhares de pessoas foram às ruas no dia 15 de maio. Foram mais de 200 cidades em todos os estados brasileiros e no DF em apoio às universidades públicas. Na cidade do Recife, onde participei do protesto, era possível ver crianças, jovens, adultos, idosos, funcionários das universidades, estudantes, apoiadores de todas as classes em marcha gritando pelo fim do absurdo. Havia também grupos organizados por partidos de esquerda e de movimentos sociais como o MST e a CUT. Porém, o movimento conseguiu juntar quem é filiado a partidos, movimentos sociais e, também, pessoas que votaram em Bolsonaro e se arrependeram.


Foram tantas pessoas em um movimento tão forte, que o esperado seria que o governo voltasse atrás da sua decisão. Contudo, o que o presidente fez foi convocar seus apoiadores a saírem em marcha no último domingo dia 26 em apoio às suas decisões. O resultado foi algumas milhares de pessoas, apoiadores de Bolsonaro típicos, caminhando em protesto contra... a educação! Na cidade de Curitiba, um grupo retirou uma faixa pendurada na frente de um prédio da UFPR que dizia “ Em defesa da educação” sob o argumento de que em prédios públicos não deveriam ser penduradas faixas ideológicas (SIC). Aparentemente, a única ideologia possível hoje no Brasil é a ideologia do absurdo.


O resultado das marchas do domingo ainda está sendo medido. Outros motes do protesto foram contra parte do Congresso, conhecido como “centrão” e contra o STF, a mais alta corte do judiciário brasileiro. Por conta disso, os congressistas temem que o manifesto convocado por Bolsonaro tenha agravado ainda mais a crise política brasileira. O que o presidente conseguiu foi inflamar ainda mais o seu público de séquitos contra as instituições do Congresso e do STF e, de quebra, separar ainda mais o Brasil.




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